Sérgio Vaisman

 

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Endocardite e Odontologia
A Endocardite Infecciosa (E.I.) é um processo infeccioso grave, provocado por quase todos os germes conhecidos, destacando-se as bactérias dos grupos dos estreptococos e estafilococos. Ocorre em qualquer idade, atingindo o coração com determinadas anormalidades congênitas e/ou adquiridas.
Apesar da modernização dos medicamentos usados em seu tratamento e prevenção, o desenvolvimento das medidas de diagnóstico e tratamento de suas complicações (como a intervenção cirúrgica precoce), seu índice de mortalidade permanece alto (cerca de 20% a 40%), embora aí estejam incluídos outros fatores como a condição de reação das defesas do paciente e a capacidade de agressão do germe(s) envolvido(s).
A cavidade bucal é um órgão riquíssimo em diversos microorganismos (dentre eles, os estreptococos e os estafilococos), que aí convivem harmoniosamente mantendo o equilíbrio saúde-doença. Ao menor sinal de desequilíbrio, os germes transformam-se de inofensivos em agressores. Suas alterações têm características próprias originárias de uma causa local e/ou sistêmica. Muitas vezes, a mucosa bucal é o espelho ou mesmo o sinal de alerta do que ocorre em outros órgãos.
Se a E.I. é uma doença do coração, portanto uma doença sistêmica, o que a odontologia tem a ver com ela? Pesquisas realizadas no Incor (Instituto do Coração) em São Paulo, constataram que 45% das doenças cardíacas têm origem na cavidade bucal e, segundo o Professor Moacyr da Silva (Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo), “40% dos casos de E.I. têm início na cavidade bucal”.
Uma cavidade bucal onde se pode encontrar cáries profundas com comprometimento pulpar (“comprometimento do canal, do nervo do dente”), gengivas inflamadas, restos radiculares (“restos de dente”), abscessos, é uma cavidade pobre em higiene, que oferece “portas de entrada” para a penetração dos microorganismos comuns desta cavidade na corrente sangüínea.
Por isso, em um paciente que seja portador de uma lesão cardíaca congênita e/ou adquirida e de um sistema de defesa enfraquecido (como um paciente que tenha se submetido a um transplante), uma higiene bucal ruim é extremamente perigosa. A possibilidade de um grande sangramento (como aquele que acontece durante uma extração dentária ou aquele que é maior do que o esperado de acordo com o procedimento a ser realizado) e a extensão do traumatismo sobre a área a ser manipulada, devem ser consideradas nestes pacientes, uma vez que ambos estão diretamente relacionados com o grau de penetração dos microorganismos na corrente sangüínea, onde permanecendo por tempo suficiente e em número adequado, poderão desencadear a E.I..
A ausência clínica de uma cardiopatia não deve excluir a possibilidade da E.I. como diagnóstico. Da mesma forma, se o paciente apresentar uma febre sem uma origem determinada por mais de sete dias combinada com a existência prévia, o aparecimento ou a modificação de um sopro preexistente, a probabilidade de se estar diante da E.I. deve ser aventada.
É importante que tanto o cirurgião-dentista (CD) como seus pacientes tenham informações concretas sobre essa patologia. A relação entre a bacteremia originada após extrações dentárias e a E.I. já está muito bem documentada. O tratamento endodôntico, quando restrito ao canal radicular, não provoca bacteremia. Ao contrário, quando, eventualmente, ultrapassa o ápice, ocorre a tão temida bacteremia que poderá desencadear ou não a E.I..
De forma igual, pacientes edentados e/ou portadores de próteses (totais ou parciais) mal adaptadas que muitas vezes apresentam ulcerações e hiperplasias, correm o risco de terem a E.I. desencadeada por meio da bacteremia provocada por aquelas. No caso das hiperplasias, a cirurgia é o recurso terapêutico indicado, o que possibilita a penetração dos agentes microbiológicos na corrente sangüínea.
O CD tem um papel fundamental na prevenção desta enfermidade que reúne aspectos médicos e odontológicos, seja por métodos que melhorem a saúde bucal (técnicas de escovação, bochechos com soluções antissépticas), seja pela conscientização do paciente sobre a importância da manutenção de uma boa saúde bucal, ou pelo emprego de antibióticos usados preventivamente antes de determinadas intervenções em pacientes considerados de risco.
Entretanto, o uso de antibióticos preventivos não garante a não ocorrência da E.I. O profissional deve ter em mente que, como em qualquer processo infeccioso, prevenção total é impossível. A E.I. pode se instalar a despeito da utilização de uma prevenção adequada. Nem sempre é possível prever que paciente desenvolverá a E.I., ou, qual procedimento a desencadeará.
Falhas acontecem, seja por causa de uma contaminação que pode ocorrer em qualquer fase do atendimento, seja devido ao próprio paciente que pode estar com suas defesas deficientes ou, por desconhecer sua verdadeira condição sistêmica ou ainda, por esconder esta condição do CD. O profissional tem a obrigação de informar isto ao paciente e o dever de utilizar todos os meios disponíveis para evitá-la.
No manejo de pacientes cardiopatas o CD precisa saber reconhecer as doenças cardiovasculares e outros fatores de risco a elas associadas. Quando diante de uma situação de risco, qualquer intervenção odontológica aumenta a probabilidade de ocorrência de E.I.. Desse modo, a realização de qualquer procedimento deve ser preferencialmente adiada e, a diretriz básica deve ser primeiramente o equilíbrio do processo saúde-doença. O paciente deve ser alertado de que o dente a ser tratado é parte de um complexo e que seu tratamento não depende só de um aspecto local. Os dentes fazem parte da cavidade bucal, que por sua vez está contida num organismo.
O intercâmbio entre o CD e o médico, bem como destes com o próprio paciente visando uma troca de informações, é altamente desejável uma vez que cria um canal de comunicação que possibilita a escolha do método de prevenção mais adequado às condições sistêmicas apresentadas pelo paciente e aos procedimentos aos quais será submetido.
(Dr.R.C.Basílio-UNICASTELO)





 
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